A crise sanitária gerada pela pandemia de covid que ainda aflige as principais economias do globo teve seu impacto no segmento imobiliário, mas ao mesmo tempo veio a reforçar seu perfil de ativo ‘seguro’ em momentos de incertezas. Prova disso são os resultados de vendas de imóveis novos e lançamentos da cidade de São Paulo, que registraram expansão de 35% e 67,8%, respectivamente, no acumulado até novembro no comparativo anual. A pesquisa completa de 2021 deve ser divulgada até o final do mês.
Em 11 meses, a capital paulista lançou 62.736 unidades e foram comercializadas outras 57.472 unidades. Ambos os indicadores representam recordes, considerando a série histórica iniciada em 2004. No período, o Valor Geral de Venda (VGV) do setor no município somou R$ 26,6 bilhões, com crescimento de 15% em relação a 2020.
Pelas projeções do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) para o ano de 2021, os lançamentos de apartamentos em SP, entre outros imóveis, devem encerrar o período com um saldo entre 70 mil e 75 mil unidades. Já as vendas devem ficar entre 60 mil e 65 mil unidades.
Segundo Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, o ano foi surpreendente e tem muito a ser comemorado apesar dos enormes desafios. Os números confirmam, acrescenta ele, que o setor segue um importante refúgio em momentos de turbulência econômica e política.
“Imóvel continua sendo uma moeda forte em situações de insegurança e instabilidade. E acredito que nesse contexto 2022 deve trazer bons resultados para o setor, no mínimo semelhantes aos do ano passado”, afirma o economista.
Petrucci recorda que os últimos três anos foram positivos para a indústria, com as construtoras precisando se reinventar para continuar operando em um novo ambiente de negócios. E com eleições presidenciais no calendário, o economista prevê mais um período de forte volatilidade e, portanto, bastante favorável para o mercado imobiliário.
Inflação, Plano diretor e Zoneamento
O crescimento na capital paulista, enfatizam especialistas do setor, se deu mesmo diante das dificuldades impostas ao mercado pela alta nos preços dos materiais de construção, as limitações do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento. Somado a isso, a aceleração da Selic assumida pelo Banco Central (BC), em especial no segundo semestre do ano passado, segue pressionando o custo dos financiamentos. Seu reflexo no pagamento das prestações, porém, ainda não é considerado relevante.
Tem algumas coisas que estão piores, reconhece Petrucci. A inflação da construção civil, por exemplo, atingiu seu maior nível no ano passado, atingindo 18,65%. Essa é a maior taxa da série histórica, iniciada em 2013. Na base anual, o custo do metro quadrado calculado pelo Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices (Sinap) saltou de R$ 1.276,40 para R$ 1.514,52.
Crescimento
As projeções de crescimento para este ano, afirmam os economistas, se mantêm calcadas na percepção de “ativo seguro” e nos investimentos em infraestrutura previstos em ano eleitoral, apesar das incertezas que ainda predominam. Para 2022, o Sindicato da Construção (SindusCon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) projeta alta de 2% para o PIB do setor e alta de 4,4% na taxa de emprego nos canteiros de obra.
A performance indica desaceleração ante o crescimento de 8% visto em 2021, mas é superior ao avanço estimado para o PIB nacional. Para a economia brasileira as projeções são de crescimento de 0,7% neste ano, após expansão de 4,6% em 2021, conforme o Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da FGV de dezembro.
Por enquanto, os economistas seguem monitorando os avanços da variante ômicron do coronavírus e seus potenciais reflexos nas cadeias de produção global. Felizmente, até o momento a avaliação é de que os impactos na atividade econômica ainda não são significativos.
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